A Múmia [2017], versão do filme clássico estrelado por Boris Karloff, traz de volta às telonas um dos mais aclamados monstros da Universal. O estúdio, por sua vez, já adaptara para o cinema, entre os anos 1920 e 1940, alguns dos principais personagens de terror da literatura e da mitologia mundial. Curiosamente, tais figuras, bem como a ambientação soturna e o contexto opressivo evocados por elas, serviram de metáfora para a representação da realidade obscura e sem esperança dos períodos pré, durante e pós às duas grandes guerras. Foi assim que Drácula, o monstro de Frankenstein, Múmia e Lobisomem* se tornaram verdadeiros ícones cinematográficos.
A importância dos monstros clássicos
Decerto, a recepção positiva de público, e também de crítica, aos seus monstros contribuiu para elevar o status da Universal em Hollywood. Por isso, ainda que perdessem força no cinema a partir da década de 1950, esses personagens continuaram sendo, de muitas maneiras, referenciados ao longo das décadas seguintes.
Com efeito, muito desse sucesso adveio do tom dramático adotado na representação das criaturas. Isso porque, embora, à princípio, fossem apresentadas como antagonistas, sua sujeição, na narrativa, a uma considerável carga de sofrimento terminava por despertar uma espécie de simpatia involuntária nos espectadores.
Antes desse estranho processo de identificação – que contrariava a visão clássica -, as pessoas, em princípio, assistiam aos filmes com o intuito de verem os mocinhos derrotarem os terríveis monstros. No decorrer da projeção, porém, o principal interesse do espectador acabava mudando, e o público passava a querer descobrir como esses bizarros e indesejados seres alcançariam, enfim, sua redenção.
Ausente das telonas desde 1999
Apenas em 1999, com o lançamento de outra versão de A Múmia, dessa vez protagonizada por Brendan Fraser e Rachel Weisz, é que um monstro clássico da Universal voltou a desfrutar de uma recepção calorosa de público e, em parte, de crítica.
Percebendo o insucesso nas tentativas anteriores de refilmagens de outros monstros clássicos, o diretor Stephen Sommers apostou numa pegada ao estilo Indiana Jones. Portanto, embora aproveitasse elementos do terror, seu filme, na verdade, era uma grande aventura.
Sai Imhotep, entra Ahmanet
Tentando emular a pegada do filme de 1999, A Múmia, dirigido por Alex Kurtzman, tem início com a revelação de um mistério escondido nos subterrâneos de Londres. A descoberta nos direciona ao século XII d.C. – mais precisamente a 1127 -, remetendo-nos, dessa forma, à época das Cruzadas e dos Cavaleiros Templários, para só depois fazer a incursão ao Antigo Egito. Todavia, ao invés do sacerdote Imhotep, temos a princesa Ahmanet (Sofia Boutella), que, ao descobrir que não será mais a herdeira do trono egípcio, traça um macabro plano de vingança e de tomada do poder, no qual realiza um pacto com Set, o deus da morte. Mas, antes de concretizar seu plano diabólico, ela é impedida e, como punição, termina mumificada viva, sendo posteriormente levada à Mesopotâmia.
Longos milênios depois, Nick Morton (Tom Cruise), um sargento americano de caráter bem duvidoso, está metido numa enrascada em algum lugar do Iraque. Ele encontra o sarcófago com a múmia de Ahmanet e, já em parceria com a arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle Wallis), tem a incumbência de transportar o achado para a Inglaterra. Acreditando ser Nick o escolhido para trazer Set ao mundo dos homens, Ahmanet e seu exército de zumbis são libertos.
A maldição da Múmia
Quando chegamos à apresentação do Dr. Henry Jekyll (Russell Crowe) – tirado da obra O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson – e sua sociedade secreta responsável por deter monstros, começam os problemas. Ocorre que, apesar dessa proposta narrativa em si não ser ruim, a maneira como tais elementos são introduzidos e as consequências decorrentes são muito mal executadas.
A partir daí, a produção opta por se render a um festival de clichês, e, infelizmente, o filme se perde totalmente. Com ritmo inconstante, A Múmia torna-se, inclusive, uma ótima pedida para quem sofre de insônia. Por fim, há várias sequências de diálogos que, de tão expositivos, beiram o ridículo.
Além do mais, as atuações são ruins e a fotografia é exageradamente escura. A direção, por sua vez, não consegue sequer definir um tom entre comédia, drama, ação ou terror. Em contraste com a versão de 1999 (autoria de Jerry Goldsmith), nem a trilha sonora se salva.
Um monstro para deter outro monstro
Por fim, entre ressurreições, alucinações e aparições fantasmagóricas de mortos-vivos, há, de positivo, uma boa referência ao clássico Um Lobisomem Americano em Londres [1981]. No mais, o que fica para a Universal, contudo, é um poderoso conselho do Dr. Jekyll: “é preciso um monstro para deter outro monstro”. Aí então pode ser que a má impressão deixada por este A Múmia se dissipe como uma tempestade de areia no deserto.
Então, pegue sua pipoca e seu refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio e… shhhhhh… um BOM FILME pra você!
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Assista ao trailer (legendado em português)
A MÚMIA BR
The Mummy US
[Ficha Técnica]
Elenco: Tom Cruise, Annabelle Wallis, Sofia Boutella, Russell Crowe | Direção: Alex Kurtzman | Ano: 2017 | Gêneros: Ação, Fantasia, Terror | Duração: 110 min. (1h50) ¹ | Classificação Indicativa: 12 Anos ² | País de Origem: Estados Unidos | Distribuição: Universal Pictures | Disponibilidade em Streaming ³: Netflix / Prime Video
¹ Tempo aproximado
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