Com uma pegada ao melhor estilo western contemporâneo, A Qualquer Custo é um exemplar típico do melhor que um road movie (filme de estrada) tem a oferecer ao seu espectador. Sua premissa é simples: em meio à aridez do deserto americano, dois irmãos se envolvem numa sequência arriscada e mal engendrada de assaltos às pequenas agências bancárias do interior texano. O plano é conseguir grana suficiente para pagar a hipoteca do rancho pertencente à família. No entanto, um experiente e astuto Texas Ranger está à espreita, somente aguardando o momento certo para agarrá-los.
Tanner (Ben Foster), o mais velho, é um porra-louca de marca maior e um ex-presidiário sem a menor perspectiva. Toby (Chris Pine) é o mais novo, divorciado e pai de dois filhos, que tenta ser o cérebro e o coração da dupla, contrapondo assim, e com certa serenidade, os impulsos violentos de seu parceiro. Para eles, roubar dinheiro da instituição que lhes ameaça tomar a única propriedade é algo além de irônico, é, na verdade, uma questão de justiça.
Raposas felpudas e lebres ligeiras
As pretensões dos irmãos Howard, entretanto, podem não ser páreas à sagacidade de um certo Marcus Hamilton (Jeff Bridges), um veterano e cascudo representante da lei na sua melancólica região. Prestes a se aposentar, Hamilton, uma figura singular, faz da caçada a Tanner e Toby a sua despedida honrosa do posto, motivo pelo qual ele segue firme no encalço dos intrépidos meliantes.
A partir daí, passamos a acompanhar, com certa empatia culposa, a fraterna interação entre os irmãos fora da lei. É então que se estabelece uma relação de cumplicidade entre espectador e protagonistas criminosos – como em A Sangue Frio (1967). Porém, simultaneamente, simpatizamos com a presença espirituosa de Marcus, que age quase como uma espécie de narrador. Inclusive, seu modus operandi guarda certa semelhança com o do personagem de Tommy Lee Jones em Onde os Fracos Não Têm Vez (2007).
Bons personagens e bons atores
O destaque vai para Chris Pine, que está ótimo. Seu personagem, Toby, é um homem com camadas além daquelas sugeridas por sua quase permanente introspecção. Quando o senso de proteção se torna maior do que o aparente equilíbrio comportamental é capaz de suportar, a calma cede espaço a uma reação explosiva que, surpreendentemente, mostra-se friamente calculada.
Enquanto isso, Jeff Bridges, com toda propriedade, rouba a cena ao interpretar um tipo muito carismático. O sarcasmo de Marcus, que é certeiramente captado por Bridges, ajuda a tornar minimamente satisfatória a experiência proposta por A Qualquer Custo. De quebra, o ator ainda apresenta uma performance corporal que se enquadra muito bem com o aspecto físico da figura que encarna.
“A Qualquer Custo”: roteiro e subtexto
Curiosamente, existe um subtexto interessante por trás do plot principal de A Qualquer Custo: uma evidente crítica às grandes instituições bancárias, bem como às formas indiscriminadas utilizadas por elas na obtenção de seu lucro. O longa ainda expõe, nas entrelinhas – por meio de cenas e frases aparentemente banais -, a questão envolvendo o enraizado preconceito americano contra mexicanos e povos de origem indígena.
Com efeito, a dramaticidade e a tensão da trama acabam amenizadas por frases ligeiramente cômicas, ditas em situações mais dispersas. Nesse sentido, os diálogos provocativos entre Marcus e seu companheiro de trabalho, Alberto Parker (Gil Birmingham), proporcionam alguns dos instantes mais bem-humorados de A Qualquer Custo. Em determinada cena, é impagável a reação que o primeiro tem diante do colega ao acertar um palpite que considera crucial à sua investigação. Ponto também para a maneira peculiar a que Toby recorre para se referir ao irmão como um idiota.
Em contrapartida, algumas cenas violentas cumprem o papel de acrescentar maior imprevisibilidade à jornada. Um assalto na virada do segundo para o terceiro ato, por exemplo, e a perseguição decorrente são sequências que, decerto, impulsionam a narrativa.
“A Qualquer Custo” e suas virtudes
O diretor David Mackenzie conduz com habilidade esse drama de perseguição. Uma cena que exemplifica bem o tato do cineasta está logo no início, em que a transição da câmera, realizada com destreza, norteia o público no exato ambiente em que a história se passa.
Em termos de trilha sonora, ao utilizar, ocasionalmente, canções tipicamente texanas junto aos temas de locação – que incluem até mesmo o uso de violinos -, as escolhas se mostram, de fato, acertadas.
A fotografia, por seu turno, aproveita de maneira oportuna a luz natural – já que boa parte do filme transcorre em ambientes abertos. Dessa maneira, algumas cenas terminam por ganhar um ar bucólico muito agradável, como, por exemplo, no momento em que Marcus, sentado numa varanda ao pôr do sol, vigia a pequena cidade.
Em resumo, A Qualquer Custo é um filme sóbrio, e, até por isso, muito bom. Mesmo sem tanta pretensão, o longa certamente deixa uma ótima impressão. Recomendadíssimo!
Então, pegue sua pipoca e seu refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio e… shhhhhh… um BOM FILME pra você!
Assista ao trailer (legendado em português)
A QUALQUER CUSTO BR
Hell or High Water US
[Ficha Técnica]
Elenco: Chris Pine, Jeff Bridges, Ben Foster, Gil Birmingham | Direção: David Mackenzie | Ano de Lançamento: 2016| Gêneros: Crime, Drama | Duração: 102 min. (1h42) ¹ | Classificação Indicativa: 14 Anos ² | País de Origem: Estados Unidos | Distribuição: Califórnia Filmes | Disponibilidade em Streaming ³: Adrenalina Pura (assinatura Premium do Prime Video)
¹ Tempo aproximado
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