Em 1989, ao lançar o longa-metragem Batman nos cinemas, Tim Burton – além de dar uma guinada em sua até então incipiente carreira como diretor – ajudou a popularizar, nas telonas!, o famoso herói que dá título à obra e, praticamente, iniciou uma nova era para os blockbusters em Hollywood. Isso porque, a DC (editora dona dos direitos do personagem), num passado não muito distante, adotara uma radical alteração de tom nas HQs – o que, por consequência, favorecera abordagens mais sombrias também em outras mídias. Dessa forma, Burton, cuja filmografia sempre foi influenciada pelo gótico, ficou bem à vontade para criar sua visão obscura do Homem-Morcego. Tal mudança, por sua vez, não poderia soar mais antagônica ao perfil vigente do protagonista no imaginário popular da época, que fora diretamente influenciado pela proposta kitsch da série de TV do final dos anos 1960. Em contrapartida, esse novo enfoque fez de Batman, em termos comerciais e artísticos, muito mais que um grande sucesso, na verdade, um verdadeiro e absoluto fenômeno.
Batsinopse
![Michael Keaton em "Batman" [1989] Batman (1989)](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_01.jpg?resize=660%2C371&ssl=1)
Eu sou o Batman
![Cena de "Batman" [1989]](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_04.png?resize=660%2C371&ssl=1)
Novo Batman, novo Coringa
Era final dos anos 1980 quando graphic novels como O Cavaleiro das Trevas [1986] e Batman: Ano Um [1988] levaram às bancas de jornal uma interpretação repaginada do Cruzado Encapuzado, dando um enfoque mais adulto ao personagem e ao seu universo. Enquanto isso, obras como Asilo Arkham – Uma Séria Casa em um Sério Mundo [1989] serviam, por seu lado, como uma espécie de complemento a essa tendência, uma vez que revelavam a faceta mais nociva e insana de seu maior inimigo. Dessa forma, faria sentido que o filme que se propunha ser o definidor do Batman para uma nova geração trouxesse em destaque justamente o embate entre o herói e sua mais conhecida nêmesis, o Coringa. Ademais, o longa adota parte da origem escrita por Alan Moore para o vilão em Piada Mortal [1988].
“Joker” Nicholson
![Jack Nicholson em "Batman" [1989]](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_05.png?resize=660%2C371&ssl=1)
Nicholson desbancou Robin Williams na preferência do estúdio, e, ao vislumbrar o potencial do longa nos cinemas, impôs uma condição peculiar para aceitar o papel: ele abriria mão de uma parte significativa de seu salário em troca de uma porcentagem da renda total obtida pelo filme nas bilheterias. Resultado: Nicholson ficou milionário. Depois disso, os estúdios, precavidos, criaram meios para impedir esse tipo de negociação.
Pode me chamar de… Coringa
![Jack Nicholson em "Batman" [1989]](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_06.jpg?resize=660%2C371&ssl=1)
Emulando traços da personalidade histriônica construída por Cesar Romero na série de 1966, incluindo a utilização de adereços como a ameaçadora rosa que expele ácido (elegantemente posicionada na lapela do terno roxo do palhaço) e a mortal mão de choque, este Coringa, ao mesmo tempo que diverte e é engraçado, é maníaco, homicida e não poucas vezes assustador. A maquiagem utilizada por Nicholson quando caracterizado como a nova persona de Jack Napier, representa, na verdade, a identidade real do bandido, ou seja, o monstro que emerge do tanque de ácido; porém, no contexto ficcional da trama, é a maquiagem real que, ironicamente, mais se aproxima da face antiga de Napier. Na verdade, essa diferença, além de ser utilizada pelo vilão para assustar suas vítimas, é importante porque manifesta o quão perturbada é sua mente.
Elfman e Prince
Como parte do merchandising utilizado para divulgar Batman, o cantor Prince (de volta ao auge) foi convidado para compor canções para a trilha sonora da produção. Consequentemente, a decisão, do ponto de vista mercadológico, resultou em êxito, visto que discos foram vendidos aos montes, sendo Batdance a faixa responsável pela maior parte do sucesso. No entanto, em relação à construção da atmosfera do filme, o álbum mostrou-se bastante dispensável, visto que suas composições destoaram um bocado do estilo dark pretendido – tanto que a maioria sequer foi utilizada na obra.
Por outro lado, Danny Elfman – que, por meio de sua banda de rock, a Oingo Boingo, da qual era vocalista, já estivera, assim como Prince, imerso no mundo pop – aliou categoria e elegância, e, como compositor da trilha instrumental de Batman, criou talvez o tema definitivo do personagem, não superado nem mesmo pelo ótimo trabalho de Hans Zimmer na trilogia Cavaleiro das Trevas. Afinal, enquanto a maioria dos super-heróis tem para si temas genéricos e pouco inspirados, a composição triunfal de Elfman é tão única que é praticamente indissociável da figura taciturna que, do alto de seus arranha-céus, vigia as conturbadas noites de Gotham City. Facilmente identificável, basta a sinistra trilha começar com seus primeiros acordes que, independentemente do contexto, logo sabemos se tratar do emblemático tema do Batman, tão gótico, vigoroso e melancólico quanto o próprio vigilante mascarado em si.
A Gotham Noir
![Cena de "Batman" [1989]](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_08.jpg?resize=660%2C371&ssl=1)
De manhã, a metrópole cinzenta é fria como o gelo, e à noite, opressiva como as trevas. Na verdade, a cidade, construída em parte pelo limitado CGI da época, às vezes parece saída de um sombrio mundo de fantasia. Enquanto isso, a caprichada cenografia e o figurino retrô remetem o espectador aos clássicos noir dos anos 1940.
Nesta Gotham City perdida em algum lugar do tempo, dividem espaço elementos futuristas, como o incrível batmóvel (um deleite visual à parte), e itens vintage, como é o caso de muitos objetos da mansão Wayne, por exemplo. A catedral de arquitetura gótica que serve de ambientação ao desfecho da trama, assim como a batcaverna, com seu design rústico, são cenários arrojados que ajudam a facilitar a imersão do espectador nessa realidade estranha e abstrata.
A Gotham Cartoon
![Jack Nicholson em "Batman" [1989] Batman (1989)](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_09.jpg?resize=660%2C371&ssl=1)
Uma espirituosa referência a Bob Kane – que, ao lado de Bill Finger, criou o Batman em 1939 – já dá o tom cartunesco do filme. Aliás, falando em criadores e quadrinhos, o roteiro brinca com a origem do personagem principal logo na primeira cena, pregando uma peça das boas no espectador menos atento. Nesse contexto, o script opta, de modo interessante, por ligar a origem do herói à do vilão – cada um contribui, portanto, a seu modo, para o surgimento do outro -, embora, para os puristas, essa seja uma decisão das mais polêmicas.
A batmania
![Michael Keaton e Kim Basinger em "Batman" [1989] Batman (1989)](https://i0.wp.com/bomfilme.blog.br/wp-content/uploads/2021/02/batman_1989_03.jpg?resize=660%2C371&ssl=1)
Batman e a nova era do Morcego
Apesar da história pouco ousada, Batman tem méritos inegáveis, e o maior deles é a solidificação da imagem do herói de Gotham – que, para além das páginas dos quadrinhos, tornou-se amplamente reconhecida mundo afora, assim como toda a mitologia que o envolve. Por consequência, a quem colaborou para o seu surgimento, a batmania trouxe respeito e consagração. Nesse sentido, foram retribuídos os trabalhos destacados de cada um dos quatro principais nomes envolvidos no projeto.
Michael Keaton, que, tanto quanto pôde, honrou e dignificou a mítica envolvendo o Homem-Morcego – mesmo que, em termos de atuação, o alegórico personagem não exigisse tanto esforço de seu intérprete -, ficou marcado, no mínimo, como um dos melhores Batmans do cinema. Enquanto isso, Tim Burton, graças à sua muito peculiar visão do herói, viu, a partir deste filme, os holofotes da mídia se voltarem para muitos de seus projetos seguintes, nos quais, aí sim, pôde demonstrar de maneira mais contundente suas habilidades inerentes. Jack Nicholson, por sua vez, cujo enérgico desempenho como Coringa abriu portas para que o icônico vilão pudesse continuar a ser explorado das formas mais multifacetadas possíveis nas telonas, recebeu, de quebra, uma indicação ao Globo de Ouro. Por fim, Danny Elfman, que criou “o” tema do Batman, tornou-se um dos compositores mais requisitados na indústria cinematográfica, alcançando um patamar de respeito que até mesmo sua fase como ícone pop nunca lhe proporcionara antes.
E o público, afinal… o que ganhou com isso? Resposta: um dos filmes de herói mais marcantes e importantes da história do cinema.
Então, pegue sua pipoca e seu refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio e… shhhhhh… um bom BAT FILME pra você!
Assista ao trailer (sem legendas em português)
BATMAN
[Ficha Técnica]
Elenco: Michael Keaton, Jack Nicholson, Kim Basinger, Robert Wuhl, Michael Gough, Pat Hingle, William Hootkins, Jerry Hall, Tracey Walter, Lee Wallace, Billy Dee Williams, Jack Palance | Direção: Tim Burton | Ano de Lançamento: 1989 | Gêneros: Ação, Aventura, Fantasia | Duração: 127 min. (2h07) ¹ | Classificação Indicativa: 12 Anos ² | País de Origem: Estados Unidos | Distribuição: Warner Bros. Discovery | Disponibilidade em Streaming ³: Max
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