Crítica do filme Godzilla 2: Rei dos Monstros

Godzilla II: Rei dos Monstros | Vida longa ao rei?

Em 2014, duas empresas, a americana Legendary Pictures e a japonesa Toho, iniciaram uma parceria com a Warner Bros que, meia década depois, culminaria na realização de Godzilla II: Rei dos Monstros. Na ocasião, as referidas produtoras e o tradicional estúdio cinematográfico trouxeram, por meio do filme Godzilla, um dos personagens orientais mais populares no Ocidente de volta às telonas. Ademais, o longa também serviu como o reboot de uma produção hollywoodiana homônima de 1998.

Godzilla II: Rei dos Monstros
(Warner/Divulgação) – O “rei dos monstros” em toda a sua glória.

Na época, Godzilla recebeu comentários negativos de grande parte do público. A insatisfação residiu na decisão dos realizadores em conceder mais ênfase aos conflitos dos personagens humanos do que ao próprio monstro. A escolha, de acordo com seus detratores, deu-se em detrimento do devido destaque ao personagem-título.

O longa, contudo, foi razoavelmente bem aceito pela crítica, e, aliado ao sucesso na bilheteria – a despeito da controversa recepção junto aos fãs -, rendeu à Warner a criação do MonsterVerse, pelo qual foram lançados, posteriormente, Kong: A Ilha da Caveira (2017) e, então, Godzilla II: Rei dos Monstros, a sequência direta de Godzilla. Assim, com o intuito de reunir King Kong e Godzilla num único filme, Rei dos Monstros é uma espécie de prelúdio para o aguardado encontro entre os dois maiores protagonistas desse universo.

Godzilla… e outros Kaijus

Godzilla II: Rei dos Monstros
(Warner/Divulgação) – O lagartão radioativo preparado para combate.

De início, Godzilla II: Rei dos Monstros foca na agência cripto-zoológica Monarch. A organização, por sua vez, tenta conter o avanço destrutivo dos Titãs (também conhecidos na cultura pop pelo termo japonês Kaijus), porquanto essas bestas primitivas e colossais ressurgem após serem mantidas em segredo por séculos. Dessa maneira, as bizarras criaturas, até então consideradas lendas e mitos antigos, marcham com ferocidade pelo planeta, ao passo que a humanidade se vê em risco iminente de extinção.

Godzilla, um réptil radioativo aquático e terrestre com proporções descomunais, está entre os terríveis monstros que contribuem para espalhar o caos total pelo mundo. Mas, além dele, há outros:

– Rodan, o “rei dos céus”: um pterossauro adormecido que desperta em meio à erupção de um vulcão;

– Mothra, a “rainha dos monstros”: uma mariposa gigante, outrora considerada uma deusa por antigas civilizações;

– King Ghidorah: uma entidade recém-descoberta, o dragão de três cabeças recebe o apelido de “monstro zero”.

Embora retratados em diversos filmes solos produzidos no Japão desde as décadas de 1950 e de 1960, é somente em Rei dos Monstros que Rodan, Mothra e Ghidorah, icônicas figuras produzidas pelo entretenimento da terra do sol nascente, recebem, enfim, sua primeira versão americanizada. Desse modo, ambos lutarão entre si, e com Godzilla, para determinar quem é o verdadeiro rei.

Épico, mas nem tanto

(Warner/Divulgação) – Em cartaz, Godzilla enfrenta King Ghidorah.

Equilibrar narrativamente embates titânicos e suas devastadoras consequências na humanidade é um grande desafio para qualquer filme de Kaiju. Felizmente, Godzilla II: Rei dos Monstros consegue tal feito, evitando que as brigas entre as feras fiquem apenas em segundo plano. Além disso, as cenas de luta são intensas e apresentadas em escala épica condizente com a ação exigida nesse tipo de jornada. Méritos do diretor e roteirista Michael Dougherty.

A direção também é hábil na condução de momentos em que a presença de algum Titã é apenas sugerida. Nesses casos, cria-se um ótimo clima de tensão e suspense, o que só aumenta a expectativa quanto ao horror por vir. A referida abordagem, com efeito, contribui para a imersão do espectador.

Infelizmente, o bom desenvolvimento de parte dos combates é frequentemente atrapalhado pelo excesso de cortes secos. Dessa forma, muitos confrontos acabam interrompidos abruptamente em prol de diálogos desnecessários, gerando momentos totalmente anticlímax. Além disso, o uso de planos muito fechados impede, por vezes, uma melhor visualização das grandes batalhas.

Criaturas, fotografia e trilha sonora dão o tom

(Warner/Divulgação) – A eterna luta do bem contra o mal simbolizada por uma das mais belas imagens de “Godzilla II: Rei dos Monstros” .

Concebido exclusivamente por meio de CGI, o design das criaturas é outro grande acerto de Godzilla II: Rei dos Monstros. Os Kaijus têm, na medida que a suspensão de descrença possa permitir, verossimilhança quanto ao aspecto físico. O trabalho, bastante detalhista, traz na textura de pele dos Titãs algumas nuances que só engrandecem sua presença em cena.

Em relação à fotografia, assinada por Lawrence Sher, essa lembra, para o bem e para o mal, características da filmografia de Zack Snyder. Elementos naturais como chuva e fogo são criados artificialmente por meio de um trabalho bastante eficaz. Tanto assim, que algumas das imagens reproduzidas em tela, de tão belas, poderiam ser emolduradas e expostas em quadros numa parede. Mas, o processo criativo também produz sequências cuja profusão de luzes contrasta com cenários muito escuros, gerando certa confusão visual.

A trilha sonora, criada pelo músico Bear McCreary, é notável. A composição reverencia o aspecto divino conferido pelos personagens humanos às criaturas. Algumas das faixas contêm sons semelhantes aos de atabaques, enquanto outras apresentam ladainhas orientais similares a cânticos cerimoniais tribais. No entanto, o score, por vezes, termina ofuscado por cenas de ação muito barulhentas.

Os vilões em destaque

Na primeira aparição de Rodan, a direção consegue calibrar todos os bons expedientes técnicos de Godzilla II: Rei dos Monstros. Nessa sequência específica, está contida toda a beleza da fotografia, bem como a imponência da trilha sonora e o excelente design do monstro. Assim, a intensidade da ação mostrada em tela é capaz de gerar o instante mais marcante da película.

(Warner/Divulgação) – Em destaque, King Ghidorah e Rodan.

A revelação de King Ghidorah também é outro ponto alto da projeção. A sequência, de cara, já demonstra a terrível ameaça que aquela hedionda figura é capaz de oferecer.

Roteiro ruim e personagens fracos

Godzilla II: Rei dos Monstros
(Warner/Divulgação) – Mãe e filha contemplam a beleza de Mothra, a “rainha dos monstros”.

Vera Farmiga, Kyle Chandler e Ken Watanabe são alguns dos atores que estão bem em cena. Mas, apesar de Godzilla II: Rei dos Monstros desfrutar de um ótimo elenco, o maior problema está mesmo nos personagens defendidos. Esses agem das formas mais absurdas e inexplicáveis possíveis – em alguns momentos, suas decisões são mesmo bem idiotas.

Além disso, nomes de peso surgem subaproveitados em papéis sem a menor relevância. Sally Hawkins, por exemplo, atriz com indicações ao Oscar, é o maior exemplo desse desperdício de talento.

Enquanto isso, a personagem vivida por Millie Bobby Brown é só mais um fator de desabono à obra. Aliás, as situações que a envolvem são claramente construídas de forma a lhe conceder um protagonismo que não parece natural. Nesse sentido, o máximo de efeito que o script consegue causar é irritação.

Há também um monte de personagens coadjuvantes que servem apenas para dizer frases de efeito ou repetir explicações técnicas desinteressantes. Pior: o alívio cômico não funciona, já que as piadas são sempre sem graça e totalmente fora de contexto.

O roteiro, confuso, permite que monstros morram e ressuscitem frequentemente, o que tira qualquer peso dramático da narrativa. Todavia, não procurar maiores esclarecimentos talvez seja a melhor alternativa para que o espectador consiga se divertir. Dessa forma, aceitar, com certa resignação, as parcas explicações que são fornecidas poderá ser a saída rumo a uma experiência a contento. 

Até que venha Kong, vida longa ao rei Godzilla!

(Warner/Divulgação) – O horripilante e malévolo King Ghidorah em luta contra Godzilla.

Por fim, existe uma velha máxima a respeito de blockbusters: para se alcançar uma experiência minimamente satisfatória, “desligue o cérebro” e curta o espetáculo visual. Curiosamente, em se tratando de Godzilla II: Rei dos Monstros, essa, decerto, pode ser uma sentença verdadeira. Na obra, há elementos suficientes, dado seu escopo épico e sua ótima batalha final, que fazem valer a sessão. Sendo assim, pelo menos até que venha Kong, vida longa ao rei Godzilla!

Então, pegue sua pipoca e seu refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio e… shhhhhh… um BOM FILME pra você!


Assista ao trailer (legendado em português)


GODZILLA II: REI DOS MONSTROS BR

Godzilla: King of the Monsters US

[Ficha Técnica]

Elenco: Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Kyle Chandler, Ken Watanabe, Sally Hawkins, Zhang Ziyi, Charles Dance, Bradley Whitford, Aisha Hinds, Thomas Middleditch, O’Shea Jackson Jr., Randall P. Havens, CCH Pounder, Joe Morton, David Strathairn | Direção: Michael Dougherty | Ano de Lançamento: 2019 | Gêneros: Ação, Fantasia | Duração: 132 min. (2h12) ¹ | Classificação Indicativa: 12 Anos ² | País de Origem: Estados Unidos | Distribuição: Warner Bros. Discovery | Disponibilidade em Streaming ³: Max

¹ Tempo aproximado

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