Steven Spielberg, mestre em entregar o melhor do entretenimento escapista àquela parcela do público interessada em blockbusters de qualidade, consegue, em Jogador Nº 1, atender expectativas com a mesma energia que, há tempos, tornou-o uma lenda do cinema.
Columbus, Ohio – 2045
Em 2045, a pobreza se espalhou pelo mundo, os recursos para uma sobrevivência digna se tornaram escassos, e as grandes cidades foram transformadas em enormes amontoados de contêineres e trailers que, uma vez dispostos entre si verticalmente, formam as chamadas “pilhas” – a estrutura habitacional básica da população. Nesse cenário distópico, dedicar a maior parte do tempo a uma existência paralela no OASIS, a realidade virtual criada pelo nerd introvertido James Halliday (Mark Rylance) e seu companheiro Ogden Morrow (Simon Pegg), é o único refúgio possível diante do cruel cotidiano.
No OASIS, qualquer indivíduo pode ser um jogador atuando numa grande competição dentro de um ambiente inspirado no mundo dos videogames. Para isso, basta colocar um par de óculos especiais – e, em alguns casos, vestir uma roupa que permita ao usuário sentir, no mundo real, as sensações vividas no virtual. Ademais, a utilização de um avatar como um simulacro que detém as características que seu senhor desejar é o que torna essa inusitada experiência possível.
Corrida do ouro
Antes de sua morte, Halliday deixa, sob a forma de easter eggs e referências múltiplas à cultura pop dos anos 1980, diversos enigmas espalhados dentro do OASIS. O propósito é estimular uma espécie de caça ao tesouro, que renderá ao campeão o controle total do jogo, assim como uma fortuna de quase um trilhão de dólares.
Utilizando o avatar denominado Parzival, o jovem Wade Watts (Tye Sheridan) larga na frente da disputa. No entanto, terá que enfrentar a oposição ferrenha de Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), o chefe da principal concorrente do OASIS. Em contrapartida, Wade se fará acompanhar de um grupo de jogadores “rebeldes” – destaque para sua parceria com a misteriosa Art3mis (Olivia Cooke). Enquanto isso, Sorrento planeja chegar ao grande prêmio mobilizando um verdadeiro exército de “especialistas” em cultura pop.
“Jogador Nº 1”: adentrando o OASIS
Jogador Nº 1 apresenta uma narrativa simples, mas nem por isso ausente de surpresas. A escalação de elenco é certeira – Mark Rylance, em especial, tem uma atuação tão singela que, em alguns momentos, dá até vontade de abraçar (literalmente) seu personagem.
A fotografia, assinada por Janusz Kaminski, é belíssima e imersiva. A direção de arte, por sua vez, convida o espectador a fazer parte do mundo ali retratado. A trilha, composta por Alan Silvestri, segue um estilo oitentista. Tudo somado, ainda tem os fundamentais efeitos visuais, concebidos com incrível zelo.
Dessa maneira, com todos os requisitos alinhados, a produção consegue ser uma obra coesa e estruturalmente sólida. E tudo só funciona, claro, graças à batuta esperta e habilidosa de Spielberg.
“Jogador Nº 1”: passeando pelo OASIS
Dada a oportuna premissa de Jogador Nº 1, Spielberg e sua equipe de efeitos visuais inserem na tela – sem nenhuma moderação (ainda bem!) – diversas e inimagináveis referências. Com isso, desde as mais evidentes até às mais “obscuras”, elas homenageiam filmes, séries, animes, desenhos, games etc.
Com efeito, o roteiro, na medida em que torna essa profusão de alusões – que vão desde meras citações até surpreendentes aparições de personagens das mais variadas mídias – num elemento importante da narrativa, faz com que tudo vá muito além do fan service gratuito. É, na verdade, a clássica jornada do herói, só que contada da forma mais geek possível. Dessa forma, assistir à obra uma única vez certamente será insuficiente para pegar o arsenal de menções, principalmente considerando seu ritmo bastante ágil – que, aliás, flui muito bem, graças à montagem extremamente cuidadosa.
Por fim, ao adaptar o livro homônimo do escritor Ernest Cline, Spielberg cria um “filho para chamar de seu”. Claro, não chega a ser uma obra-prima tal qual seus “primogênitos” Tubarão (1975) e Jurassic Park (1993). Entretanto, a obra consegue, com êxito, resgatar o espírito leve, aventuresco, familiar e inovador desses e de outros de seus grandes clássicos.
“Jogador Nº 1”: saindo do OASIS
Temas relacionados ao poder transformador e, às vezes, destruidor do avanço tecnológico já haviam sido trabalhados por Spielberg. Jogador Nº 1, contudo, faz uma simpática analogia sobre a influência do virtual no mundo real. Além disso, o filme dá um alerta sutil a respeito das possíveis e desagradáveis consequências que essa evolução indiscriminada é capaz de acarretar num futuro próximo.
Decerto, muitos serão os que sairão da sessão sorridentes ou com os olhos marejados, dada a emoção da revisita a ícones da infância – ou até mesmo, quem sabe, da juventude. Afinal, ver personagens tão icônicos tratados com carinho e respeito sem dúvidas fará com que muitos fãs guardem, com apreço, essa deliciosa e carismática aventura num cantinho aquecido de seus corações.
Em suma, Jogador Nº 1 é o velho Spielberg sendo o velho Spielberg.
Então, pegue sua pipoca e seu refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio e… shhhhhh… um BOM FILME pra você!
Assista ao trailer (legendado em português)
JOGADOR Nº 1 BR
Ready Player One US
[Ficha Técnica]
Elenco: Tye Sheridan, Mark Rylance, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Simon Pegg, Lena Waithe, T. J. Miller, Hannah John-Kamen, Philip Zao, Win Morisaki, Ralph Ineson, Susan Lynch, Claire Higgins, Perdita Weeks, Letitia Wright | Direção: Steven Spielberg | Ano de Lançamento: 2018 | Gêneros: Ação, Aventura, Fantasia, Ficção Científica | Duração: 140 min. (2h20) ¹ | Classificação Indicativa: 12 Anos ² | País de Origem: Estados Unidos | Distribuição: Warner Bros. Discovery | Disponibilidade em Streaming ³: Max / Prime Video
¹ Tempo aproximado
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