O Farol | Beleza e profundidade no bizarro e no grotesco

Com atuações viscerais de Robert Pattinson e Willem Dafoe, O Farol é mais uma incursão do diretor Robert Eggers (A Bruxa, 2015) ao terror místico das narrativas folclóricas. A obra – que, com efeito, emula as características visuais das produções do início do século XX – é, decerto, um experimento cinematográfico bastante peculiar.

Conhecendo “O Farol”

O Farol
(Vitrine Filmes/Divulgação) – Será este o novo Daniel Day-Lewis?

No final do século XIX, o jovem Ephraim Winslow (Pattinson) consegue um emprego desafiador: cuidar, durante alguns meses, da manutenção de um velho farol localizado numa remota ilha. Para seu infortúnio, no entanto, além do cada vez mais incômodo isolamento, ele lidará com a companhia nada agradável do veterano Thomas Wake (Dafoe), um marujo de hábitos pouco educados que será seu supervisor nas enfastiantes tarefas (algumas repulsivas) com as quais terá de ocupar seu tempo no soturno lugar. E a situação, que já era desoladora, piora quando estranhos fenômenos perturbam a sanidade mental de Winslow, que a essa altura se angustia tentando descobrir um segredo que Wake esconde na torre do farol.

“O Iluminado” e influências literárias

(Vitrine Filmes/Divulgação) – Um mergulho no mistério e no horror.

Falar sobre isolamento não é tarefa fácil. Diante disso, tomar um clássico como inspiração pode ser um norte. Sendo assim, é possível dizer que, de forma inequívoca, O Iluminado (1980) exerce grande influência na construção da atmosfera claustrofóbica de O Farol. Nesse sentido, a trilha sonora de Mark Korven configura-se como um elemento notável. Ademais, podemos dizer que o fantasma de Jack Torrance parece assombrar Winslow, que, a exemplo do personagem de Jack Nicholson no filme de Stanley Kubrick (baseado em livro de Stephen King), sofre de alcoolismo e remói traumas do passado.

Eggers, que participa do desenvolvimento do roteiro, impulsiona o processo criativo inspirando-se em contos escritos por Robert Louis Stevenson e, principalmente, por Herman Melville. E, claro, de H. P. Lovecraft, o diretor extrai um ingrediente fundamental: o grotesco. O Farol, entretanto, não almeja ser a adaptação literal destes, mas recorre à mesma natureza instigante dos referidos autores.

Inspirações reais para “O Farol”

(Vitrine Filmes/Divulgação) – Seria esta uma versão sombria do Marinheiro Popeye?

Em O Farol, além das obras literárias anteriormente mencionadas, uma tragédia real envolvendo dois faroleiros, ocorrida em 1801 num lugar chamado Ilha de Small, serve de ponto de partida para Robert Eggers. Além do mais, embora houvesse a possibilidade de construir seu farol em estúdio, o cineasta, a fim de tornar a experiência mais imersiva possível, optou por rodar o filme em locações reais.

Com isso, as gravações foram repletas de agruras, já que submetidas às intempéries da natureza. Apesar disso, os aspectos naturais, incluindo tempestades, ajudaram a construir o clima desejado, no que também contribuiu o excelente trabalho de som.

Horror em preto e branco

(Vitrine Filmes/Divulgação) – Insanidade e medo numa só expressão.

Assinada por Jarin Blaschke, a fotografia de O Farol é primorosa, sendo, com certeza, um dos grandes trunfos da produção – aliás, não por acaso, foi reconhecida com uma merecida indicação ao Oscar da categoria. O trabalho, por sua vez, remete-nos, de forma intencional, às obras do início do século passado – a película foi rodada com equipamentos adaptados ao tipo utilizado na época -, sobretudo ao cinema alemão da década de 1920. O preto e branco que domina cada instante da projeção acrescenta um tom lúgubre e opressivo que certamente causa incômodo e uma terrível sensação de pesadelo.

A luz do farol é acesa pelos faroleiros

O Farol
(Vitrine Filmes/Divulgação) – Pattinson e Dafoe: tão diferentes, tão parecidos.

Belo e grotesco, artístico e onírico: percepções possíveis diante de O Farol, e também motivos para lhe conferir prestígio. A produção, premiada no Festival de Cannes, dá a Robert Pattinson a oportunidade de, definitivamente, entrar no rol dos grandes atores de sua geração, e brinda os amantes da sétima arte com mais uma porção da excelência artística de Willem Dafoe. O longa, por fim, ao lançar mão de variados e enigmáticos signos, propõe interpretações de caráter amplamente subjetivas, deixando, portanto, a concepção de seu real significado a critério do espectador.

Então, pegue sua pipoca e seu refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio e… shhhhhh… um BOM FILME pra você!


Assista ao trailer (legendado em português):

https://www.youtube.com/watch?v=rwExUiQzCD0


O FAROL BR

The Lighthouse US

[Ficha Técnica]

Elenco: Robert Pattinson, Willem Dafoe | Direção: Robert Eggers | Ano de Lançamento: 2019 | Gêneros: Fantasia, Mistério, Terror | Duração: 104 min. (1h44) ¹ | Classificação Indicativa: 16 Anos ² | Países de Origem: Canadá, Estados Unidos | Distribuição: Vitrine Filmes | Disponibilidade em Streaming ³: Prime Video

¹ Tempo aproximado

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