Um Lugar Silencioso | Quando falar é a senha para morrer

É com o excelente Um Lugar Silencioso que o ator John Krasinski estreia sua cadeira de diretor da melhor forma possível. Isso porque, o primeiro longa do novo cineasta, além de um terror bastante original, também é um drama dos mais interessantes.

Um Lugar Silencioso
(Paramount/Divulgação) – Shhhh…

Na trama, ambientada num devastado futuro pós-apocalíptico, a maior parte da população do planeta foi vitimada por estranhas e misteriosas criaturas, que, por sua vez, caçam por meio do som. Aos que restaram, apenas um objetivo: sobreviver.

Quanto aos algozes, estes, apesar da cegueira e do olfato limitado, têm audição extremamente apurada. Assim, qualquer ser vivo pode ser capturado e morto, com extrema violência, dentro de segundos.

Uma história de sobrevivência

(Paramount/Divulgação) – Pela estrada a fora…

Na mais absoluta quietude, a pequena família protagonista de Um Lugar Silencioso vive isolada numa fazenda. Sair do local só é uma boa ideia quando for preciso ir à cidade mais próxima em busca de suprimentos. O lugar, por seu turno, está dizimado, mas ainda guarda um supermercado abandonado e, por ora, fartamente abastecido.

No trajeto, todos devem seguir numa trilha de areia, a fim de abafar o som das pisadas. Precauções do tipo também são adotadas em praticamente quaisquer esforços que se fizerem necessários. Ainda assim, o perigo está sempre à espreita.

O terror como instrumento narrativo

(Paramount/Divulgação) – Vocês viram aquilo?

Com base na premissa de Um Lugar Silencioso, a escolha de Krasinski por lançar mão do terror como fio condutor da narrativa vai muito além da mera intenção em construir momentos assustadores. A decisão se deve mais à eficácia dos elementos do referido gênero na criação de uma atmosfera mais densa. Assim, o processo de imersão é facilitado, e a história e sua mensagem fluem mais naturalmente ante ao espectador.

Posto isso, muitos longas de terror se dispõem a abordagens mais complexas e, normalmente, não associadas ao gênero. Em algumas dessas obras, para tratar de assuntos delicados, um recurso bastante eficiente é a metáfora. Com isso, o mote do filme, em detrimento aos recorrentes sustos fáceis, é que se torna o elemento capaz de despertar interesse genuíno na audiência.

Um Lugar Silencioso, decerto, segue essa tendência, propondo, também por meio da fantasia e da ficção científica, uma análise sensível da necessidade instintiva do ser humano de se comunicar com seu semelhante. Assim sendo, o longa sugere, por meio das situações de conflito propostas, alguns dos efeitos que a falta de comunicação – essa interação básica entre a espécie humana – é capaz de acarretar em nosso dia a dia. De quebra, o filme explora, de maneira marcante, a importância vital que a união familiar assume em situações de perigo extremo ou de privação intensa.

Emily Blunt (e um ótimo elenco)

Um Lugar Silencioso
(Paramount/Divulgação) – A calmaria que precede a tempestade.

Decerto, para transmitir uma mensagem poderosa, a carga dramática oferecida pelos atores em cena deve corresponder à intensidade sugerida, e, nesse sentido, o desempenho do elenco de Um Lugar Silencioso é proporcional à expectativa. Um ótimo exemplo disso está na relação afetuosa entre Evelyn (a mãe), vivida por Emily Blunt, e Lee (o pai), interpretado pelo próprio John Krasinski. Casados também na vida real, os atores, quero acreditar, aproveitam-se de sua condição conjugal para, como intérpretes, conferir maior credibilidade à afetividade existente entre seus personagens, algo evidenciado pela forma carinhosa com que eles interagem.

Enquanto isso, o ator Noah Jupe vive Marcus, o filho mais novo do casal, e Millicent Simmonds dá vida a Regan, a filha mais velha. O curioso é que Simmonds, assim como sua personagem, é portadora de deficiência auditiva. Tendo isso em mente, fica notável o quanto as situações que envolvem a pequena Regan soam verossímeis em tela.

Um Lugar Silencioso
(Paramount/Divulgação) – Um angustiante e desesperador momento materno.

Em Um Lugar Silencioso, a boa sinergia do elenco é perceptível – e os fatores supracitados colaboram muito para isso. Como resultado, os atores agem de forma natural. O maior destaque, entretanto, fica para o talento de Emily Blunt, que, brilhantemente, por meio de pequenas nuances de interpretação, transparece, com absoluta propriedade, o instinto materno de sua personagem. Desde o semblante até pequenas sutilezas corporais exprimem toda a gama de sentimentos que inundam o interior de Evelyn. Tanto que, num momento em particular, a atriz é capaz de demonstrar um intenso misto de sensações, que vão da dor física à angústia, do medo ao desespero.

O fator Krasinski

(Paramount/Divulgação) – Esperança é a única luz em meio às trevas.

Por seu lado, John Krasinski é um dos grandes responsáveis por Um Lugar Silencioso ser tão bem-sucedido. Primeiro, porque sua atuação como o pai e marido incansavelmente protetor é convincente ao ponto de automaticamente gerar empatia no espectador. Segundo, porque, como diretor, ele acerta a mão na condução da jornada, criando uma atmosfera tensa e angustiante que produz um ritmo intenso e enervante. E, por fim, pela simplicidade de um roteiro bem trabalhado, com o qual também colaborou.

Aliás, por falar em roteiro, não há em Um Lugar Silencioso qualquer perda de tempo com informações desnecessárias sobre a origem dos antagonistas. O foco, assim sendo, está apenas nos protagonistas e em seus dilemas. Além disso, a participação de uma personagem surda na história serve como justificativa plausível para que aquele grupo familiar em especial resista à grande assolação que o cerca.

Um lugar silencioso… e vermelho

(Paramount/Divulgação) – Alerta vermelho!

O design de som, com certeza, é outro grande trunfo de Um Lugar Silencioso. Graças ao ótimo trabalho, o silêncio constante do filme é, na prática, um de seus personagens, dada a importância que sua presença ou ausência podem ser sentidas na obra. Assim, cada ambiente e situação em particular têm um tipo específico de silêncio.

A boa trilha sonora de Marco Beltrami rompe a quietude durante os momentos de maior ameaça a que os personagens estejam sujeitos. O risco iminente também é reforçado pela fotografia, que utiliza a cor vermelha para sugerir a aproximação do perigo.

Um lugar silencioso… e surpreendente

(Paramount/Divulgação) – Silêncio, por favor!

Um Lugar Silencioso é um grande filme de terror. Também é um suspense excelente e um drama realmente surpreendente. A obra, que consegue emocionar e angustiar, oferece ao espectador algo que só o cinema de altíssima qualidade é capaz de proporcionar: imersão total numa trama instigante e de desenvolvimento envolvente.

Então, pegue pipoca e refrigerante, ajeite-se na poltrona, faça silêncio (isso nunca fez tanto sentido) e shhh… um BOM FILME pra você!


Assista ao trailer (legendado em português)


UM LUGAR SILENCIOSO BR

A Quiet Place US

[Ficha Técnica]

Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe | Direção: John Krasinski | Ano de Lançamento: 2018 | Gêneros: Drama, Fantasia, Ficção Científica, Suspense, Terror | Duração: 90 min. (1h30) ¹ | Classificação Indicativa: 14 Anos ² | País de Origem: Estados Unidos | Distribuição: Paramount 

¹ Tempo aproximado

² [ATENÇÃO!] Confirme as informações detalhadas sobre classificação indicativa na plataforma escolhida para assistir ao filme, série ou doc


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